segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Hospital das Fãs

Thom foi rapidamente internado em um hospital em uma pequena cidade próxima do local onde ocorreu o acidente. Como soubemos do acidente por rádio enquanto ainda estávamos voando, conseguimos alterar a rota para a cidade onde Thom estava internado. Quando chegamos lá, eu vi a perfeita visão do inferno.

As fãs estavam na porta do hospital com camisas da banda gritando e pedindo autógrafos. Como elas podiam estar tão animadas num momento tão tenso, tão triste como aquele? Thom não era só o nosso baixista, ele também era o nosso amigo, não só um amigo, era um irmão.
Aquela banda era como a minha família, nós éramos muito unidos e quando Thom nos disse que pretendia pedir a Chloe em casamento, ficamos muito felizes, a nossa "família" ficaria ainda mais unida, e quem sabe maior se eles tivessem filhos. Eu ia ser tio! Mais ou menos, um tio de coração.
O pior é que eu não queria que a banda acabasse, isso pode parecer egoísta, mas era muito bom ter aquela sensação quando eu fazia o meu solo e as fãs jogavam papéis com os telefones delas em mim.
Nós ainda não sabíamos da situação que Thom se encontrava. Estávamos preocupados com ele mas não achávamos que fosse algo tão sério, na verdade esperávamos que não fosse algo tão sério, mas é óbvio que seria, ele era um astro do rock, e astros do rock sempre se fodem.
Vários drogados por aí continuam fumando e sobrevivem a todas as overdoses que tem, mas não, os astros do rock morrem de overdose. Acidentes de avião acontecem todo dia mas as pessoas sobrevivem, só os astros do rock morrem.
Quando chegamos no quarto vimos Thom cheio de tubos e um médico que estava sentado do lado dele se levantou e disse:
- Tenho que ser sincero, eu penso que ele não vai sair do estado de coma. O caso dele foi bem curioso, ele bateu a cabeça na asa do avião enquanto ele estava caindo, quando atingiu o chão já estava em estado de coma. O curioso disso é que o assento em que ele se encontrava não era perto da asa do avião, a acompanhante dele que estava.
Todos ficamos em estado de choque, quando ele percebeu que o avião ia cair, ninguém sabe como ele percebeu, mas ele percebeu, ele foi correndo para onde Chloe estava e jogou ela para outra parte do avião, dando a vida por ela.
Todos nós começamos a chorar, nenhum deles gosta que eu toque nesse assunto pois se acham homens demais para chorar mas eu admito que chorei, e chorei muito. Nick ficou arrasado, ele além de tudo era irmão de sangue do Thom, estava sofrendo mais do que todos, ou não.
Chloe com certeza estava pior, ele estava morrendo mais ou menos por ela. Quem sabe o lado sentimental dela tenha despertado. Ou não, o lado depressivo dela também poderia ter despertado.
Deixamos nosso telefone com o pessoal do hospital, para o caso de qualquer progresso no caos do Thom e nos mudamos temporariamente para um hotel da cidade, para podermos acompanhar o que estava acontecendo com ele.

domingo, 20 de junho de 2010

O Acidente

A turnê inteira foi perfeita, nada de ruim aconteceu e eu realmente achei que a minha mania pessimista tinha acabado. Mas uma coisa você tem que saber, quando você está numa banda nada é perfeito, nunca.

Thom veio pedir nossa ajuda, ele comentou que queria pegar a onça, achava que ela era linda e realmente pensava que tinha se apaixonado pela primeira vez. Desde o começo da banda, as meninas sempre davam em cima do Thom, e ele sempre recusava, isso era impressionante.
Decidimos ajudar eles. Pedimos pra ela um avião novo, inventamos que o nosso tinha quebrado. Ela alugou um avião novo, mas não seria para a banda, seria pra ela e pro Thom. Nós iríamos deixar os dois sozinhos naquele avião.
O Thom pretendia pedir ela em casamento. Eu também achei que era muito cedo, mas ele disse que eles estavam juntos a muito tempo, só que não como um casal, mas ele tinha certeza que ela iria aceitar.
Talvez aceitasse, mas isso nunca vamos saber. O avião em que eles estavam caiu. Chloe saiu ilesa, quase, quebrou alguns ossos, mas nada sério, agora o Thom, ele entrou em coma. Na queda ele bateu a cabeça, sofreu um traumatismo craniano e entrou em coma.
Será que agora era o fim mesmo?

sábado, 12 de junho de 2010

O Primeiro Show

Acabei de reparar que eu sou inseguro, muito inseguro. Sempre que acontece alguma coisa boa, eu vou e penso no lado ruim. Agora era o nosso primeiro show da turnê e eu não pensava "Oh, vai ser ótimo, minha carreira está decolando e blá blá blá". Eu pensava " Ai meu Deus, e se o show estiver vazio? E se os ingressos não venderem? E se o equipamento quebrar? E se um saco de areia cair na minha cabeça bem no meu solo? E se o Roger desafinar? E se blá blá blá blá"

Quanto mais perto do destino eu chegava, mais o nervoso aumentava, e os caras? Estava super animados, felizes! Eu não conseguia. Óbvio que eu estava feliz, lá no fundo pelo menos, mas não conseguia ter aquela animação.
Mas o nervoso passou rápido, bem rápido. Ao chegar no estádio, ver o tamanho do palco que montaram e ver aquele camarim, ver o nosso equipamento sendo limpo pela produção, ver aquilo tudo profissional me deixou muito feliz.
Mas tocar em público ainda me deixava nervoso. E se eles não gostassem de mim ao vivo? Eu tenho que parar com isso, sério. Talvez seja por isso que eu estou escrevendo esse diário. Eu estava escrevendo no diário trancado no banheiro do camarim enquanto os caras treinavam uma música nossa quando a onça entrou:
-Parem com isso, vamos entrar em cinco minutos e a banda de abertura já está sendo vaiada. Rápido, se preparem, as músicas estão na ordem do disco e são as mesmas do disco. RÁPIDO!
Nick bateu na porta e mandou eu sair, porque nós iríamos tocar. Eu escondi o diário no bolso da minha jaqueta, sai do banheiro, peguei a guitarra e fui. As luzes piscavam, o povo gritava e meu coração acelerava.
Chegamos no palco, paramos e ficamos quietos. Os fãs também ficaram. Até que eu gritei:
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
E eles responderam a mesma coisa. A partir desse momento o show começou, começou e infelizmente terminou. Foi perfeito, acho que o melhor show que eu já fiz ou irei fazer.

domingo, 30 de maio de 2010

A Hippie Dolores

A felicidade era enorme, a gente mal podia acreditar. Nós nos despedimos das noites de fossa, das discussões contra a Madonna, das tardes ouvindo Move On, de tudo triste! Eu arrumei minha mala no mesmo segundo que eu desliguei o telefone.

Eu não sabia o que um roqueiro levava na turnê, então eu peguei todas as minhas calças jeans e todas as minhas camisas de bandas. Não eram muitas, mas qual o problema de feder? Eu era um roqueiro em turnê!
Sapatos? Levei dois, porque eu não via utilidade em mais, um para cada dia, eu ia revezando. Como um bom quase hippie, faltei no barbeiro, deixei meu cabelo e minha barba extremamente compridos para a minha idade.
Para se divertir na viajem eu levei três gibis dos Fabulous Furry Freak Brothers e milhares de discos. Combinei com o Nick que ele levaria o toca discos, porque viajar realmente é um tédio sem música ou gibis.
O nosso primeiro show não era longe, na verdade era possível ir de carro, no caso, de ônibus. O ônibus poderia ser preso por algum tira paranóico por ser tão hippie. Parecia o Magic Bus do The Who.
John apelidou o ônibus de Dolores porque disse que sempre quis ter uma cachorra com esse nome, mas já que sua mãe é alérgica a pelo de cachorro ele nunca teve uma. Então o ônibus servia.
A viajem foi ótima por causa da trilha sonora, e dos meu gibis. A gente também tocava músicas clássicas tipo Smoke on The Water. A conversa era máxima e o motorista, aparentemente chapado, gritava de cinco em cinco minutos:Me fazia sentir tão...hippie.

domingo, 23 de maio de 2010

Maré Baixa

As coisas estavam começando a ficar frias. Nenhuma música nova na rádio, os mesmos posters nas bancas, as fãs não estavam mais tão doidas e a Athena não ligava para a gente para marcar um show a mais ou menos um mês.

Eu realmente achei que aquele era o fim da banda, mas mal sabia eu que a maré abaixa antes da tsunami. Quando eu já tinha até esquecido que fazia parte de uma banda, passava os dias como um verdadeiro vegetal. Não me conformava que tudo tinha acabado tão rápido.
Eu escutava o meu disco tardes inteiras, chorava, e não saia daquela maldita cama. Sempre que o telefone tocava, eu desesperadamente ia atender, com uma mínima esperança de ser a gravadora, mas nunca era. Acabei desistindo.
Eu mal dormia, fiquei revoltado. Joguei minha guitarra nova pela janela, porque vi que aquilo tudo era hipocrisia. Os outros caras também não estavam bem, eles me ligavam direto pra gente se reunir, o que significava ir no bar mais próximo, encher a cara e cantar blues depressivo sobre o mundo capitalista, e como a Madonna estava acabando com o rock.
Sabe, ficar na expectativa é a pior coisa do mundo. Esperar é a pior coisa do mundo. É verdade quando eles dizem que quando você menos espera as coisas boas acontecem, mas isso é uma crueldade, porque até esquecer e parar de esperar por certas coisas, você pode até ter se matado de tanta ansiedade.
Agora quando o telefone tocava, eu não mexia um músculo, nem me importava. Achava que era só uma amiga da minha mãe combinando um jantar para exibir o boletim da filha. Ainda bem que eu comecei a pensar isso.
Quando minha mãe atendia o telefone e gritava:
- Russel, telefone para você, filho.
Eu também não me abalava, pensava que era os caras da banda pedindo pra eu ir em mais uma noite de fossa. Ainda bem que eu também pensava isso. Num dia normal, eu tava deitado na minha cama escutando Move On do Jet, minha música nos momentos depressivos, quando a minha mãe gritou:
- Russel, telefone para você, filho.
- Já falei pra me chamar de Rusty, mãe!
Peguei o telefone, e já adiantei:
- Fala Thom.
- Thom? Não, não. Aqui é o Lucas, da Athena Records, eu descobri vocês num show local, lembra?
- Claro, o que foi?
- Bom, estou ligando para todos da banda só para avisar que vocês podem começar a se preparar, arrumar malas, despedir da família e tudo mais, porque a turnê de vocês começa em uma semana.
- A turnê vai acontecer?
- Ainda tinha dúvidas? Por favor seja breve, não queremos adiar nenhum show.
- Ok.
Eu estava sonhando? Não, eu não estava. Literalmente, a maré abaixa antes de um tsunami.

domingo, 9 de maio de 2010

Negociando com a Athena

Como sempre, eu estava inseguro. É que a Athena Records era uma das maiores gravadoras atuais no mundo, estava lançando um monte de talentos e simplesmente mudar o nosso nome podia estragar muita coisa e eles podiam simplesmente descartar a gente.

E o que a Chloe ia pensar quando todo mundo, menos eu, começasse a chamar ela de onça? Ela podia se demitir, não? E ela sustentava a banda, era a melhor empresária que existia, não perdia uma discussão, se havia críticas negativas ela nos defendia e se uma fã qualquer dizia que estava grávida de um de nós, ela provava o contrário.
Eu não sei se ela ia reagir bem a esse negócio de onça. Eu não queria perder o nosso contrato, eu não queria perder a Chloe e muito menos voltar a tocar em barzinhos. Sabe, a questão nem era o dinheiro. Eu tava sim ganhando um bom dinheiro, troquei a minha modesta guitarra falsa por uma Gibson Les Paul original.
Era legal ser rico, mas se eu perdesse tudo aquilo, não me importava muito. Eu ligava mais era perder a banda. Se a gente fosse dispensado, provavelmente a banda iria se separar, porque sucessos assim, que acabam rápido, nunca mais voltam para o topo das paradas.
Eu não queria perder o perfeccionismo engraçado da Chloe, a tranquilidade até irritante do John, o otimismo simpático do Roger, a visão punk e revoltada do mundo do Thom e o tom reservado mas amigável do Nick.
Também preciso admitir, gostava de tocar para platéias grandes, gostava das fãs me seguindo, gostava de autografar as coisas esquisitas, tipo um gorro de tricô branco e principalmente, gostava de chegar em casa, abrir meu armário, encontrar um poster meu e do lado dele, o meu disco.
Lembra que eu falei que fé me faltava? Não tanto assim. Rezei o caminho inteiro, rezei orações que até achei que não existiam, e os caras só riam de mim. Finalmente chegamos ao prédio filial da Athena Records, subimos até o escritório dos grandes chefes no décimo quinto andar e fomos falar com eles. A onça tava junto, demos a ideia, e eles fizeram uma cara péssima. Depois falaram:
- Tenho ódio de mim por ter lançado vocês...
- O que? Gritou toda a banda
- Tenho ódio por ter lançado vocês como The Next Step! Se fosse So Weird direto teria muito mais sucesso! De qualquer jeito, a turnês So Weird Against Law começa mês que vem. Vamos assinar a papelada?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Muito Esquisito

Meu Deus, uma banda de sucesso? Eu tava mesmo numa banda de sucesso? Com direito a disco e tudo mais? Não sei se eu tenho baixa auto-estima, mas nunca me considerei um talento nato. Mas talvez eu seja né? Já que gravei um disco como guitarrista solo, devo ter algum talento.

Um dia, eu e os outros caras da banda nos reunimos na casa do Thomas e do Nicholas pra conversar sobre o emblema da banda, novas músicas essas coisas. Tava tudo indo bem até que o Thomas precisou abrir a boca, ainda bem:
- Olha, eu gostava de ser do The Next, era um bom nome, agora The Next Step? Gente isso é maior nome de boy band, né? Tipo, rock gente, isso aqui não é rock! Que tal nossa turnê, que provavelmente vai acontecer, inaugurar nosso novo nome?
Boy band? Nunca tinha pensado nisso sabe, tipo nunca me veio na cabeça que nosso nome era tão boy band.
- Olha eu nunca tinha pensado nisso, mas já que você falou, é verdade. Mas o que a gravadora vai achar disso e que nome você quer colocar? Sugeri
- Aaah, isso é fácil. A gente fala com a onça (era assim que Thomas chamava a Chloe) e vê o que ela acha, aí a gente fala com a gravadora e a nossa nova turnê tá legal, alguém tem alguma ideia?
- Cara, mudar o nome da banda de uma hora pra outra vai ser muito esquisito. Disse Roger, sem a intenção de nomear a banda novamente.
- Isso cara! Muito esquisito! A banda pode chamar So Weird! Eu gostei, o que vocês acham?
Todo mundo concordou, óbvio, So Weird era um nome muito bom. Mas Thomas apareceu com outra ideia, os nossos nomes. Ele queria um apelido irado pra cada um, ok, mas qual? Passamos um bom tempo discutindo isso, mas depois de duas horas, John chegou a uma conclusão:
- Ok gente, aqui estão os apelidos: eu vou continuar sendo o John; Thomas, agora você é o Thom; Nicholas, você é o Nick; Roger, você continua sendo Roger e você muleque, de Russel passa para Rusty. E graças a você Thom, a Chloe agora é...A Onçaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Ela não ia gostar nada disso, mas essa era a intenção do Thom. Era meio óbvio que ele gostava dela e é claro que irritar ela seria a melhor maneira de chamar a atenção "da onça". O novo nome da banda era legal e nossos novos nomes também, o único problema era o que a Athena Records ia pensar disso?
Bom, nós só iríamos saber isso no dia seguinte. Combinamos de ir todos juntos e anunciar nossa ideia, e só torcíamos para eles gostarem. Quem sabe isso funciona, ou não? Nunca fui uma pessoa sem fé, mas naquele momento, fé me faltava.