segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Hospital das Fãs

Thom foi rapidamente internado em um hospital em uma pequena cidade próxima do local onde ocorreu o acidente. Como soubemos do acidente por rádio enquanto ainda estávamos voando, conseguimos alterar a rota para a cidade onde Thom estava internado. Quando chegamos lá, eu vi a perfeita visão do inferno.

As fãs estavam na porta do hospital com camisas da banda gritando e pedindo autógrafos. Como elas podiam estar tão animadas num momento tão tenso, tão triste como aquele? Thom não era só o nosso baixista, ele também era o nosso amigo, não só um amigo, era um irmão.
Aquela banda era como a minha família, nós éramos muito unidos e quando Thom nos disse que pretendia pedir a Chloe em casamento, ficamos muito felizes, a nossa "família" ficaria ainda mais unida, e quem sabe maior se eles tivessem filhos. Eu ia ser tio! Mais ou menos, um tio de coração.
O pior é que eu não queria que a banda acabasse, isso pode parecer egoísta, mas era muito bom ter aquela sensação quando eu fazia o meu solo e as fãs jogavam papéis com os telefones delas em mim.
Nós ainda não sabíamos da situação que Thom se encontrava. Estávamos preocupados com ele mas não achávamos que fosse algo tão sério, na verdade esperávamos que não fosse algo tão sério, mas é óbvio que seria, ele era um astro do rock, e astros do rock sempre se fodem.
Vários drogados por aí continuam fumando e sobrevivem a todas as overdoses que tem, mas não, os astros do rock morrem de overdose. Acidentes de avião acontecem todo dia mas as pessoas sobrevivem, só os astros do rock morrem.
Quando chegamos no quarto vimos Thom cheio de tubos e um médico que estava sentado do lado dele se levantou e disse:
- Tenho que ser sincero, eu penso que ele não vai sair do estado de coma. O caso dele foi bem curioso, ele bateu a cabeça na asa do avião enquanto ele estava caindo, quando atingiu o chão já estava em estado de coma. O curioso disso é que o assento em que ele se encontrava não era perto da asa do avião, a acompanhante dele que estava.
Todos ficamos em estado de choque, quando ele percebeu que o avião ia cair, ninguém sabe como ele percebeu, mas ele percebeu, ele foi correndo para onde Chloe estava e jogou ela para outra parte do avião, dando a vida por ela.
Todos nós começamos a chorar, nenhum deles gosta que eu toque nesse assunto pois se acham homens demais para chorar mas eu admito que chorei, e chorei muito. Nick ficou arrasado, ele além de tudo era irmão de sangue do Thom, estava sofrendo mais do que todos, ou não.
Chloe com certeza estava pior, ele estava morrendo mais ou menos por ela. Quem sabe o lado sentimental dela tenha despertado. Ou não, o lado depressivo dela também poderia ter despertado.
Deixamos nosso telefone com o pessoal do hospital, para o caso de qualquer progresso no caos do Thom e nos mudamos temporariamente para um hotel da cidade, para podermos acompanhar o que estava acontecendo com ele.

domingo, 20 de junho de 2010

O Acidente

A turnê inteira foi perfeita, nada de ruim aconteceu e eu realmente achei que a minha mania pessimista tinha acabado. Mas uma coisa você tem que saber, quando você está numa banda nada é perfeito, nunca.

Thom veio pedir nossa ajuda, ele comentou que queria pegar a onça, achava que ela era linda e realmente pensava que tinha se apaixonado pela primeira vez. Desde o começo da banda, as meninas sempre davam em cima do Thom, e ele sempre recusava, isso era impressionante.
Decidimos ajudar eles. Pedimos pra ela um avião novo, inventamos que o nosso tinha quebrado. Ela alugou um avião novo, mas não seria para a banda, seria pra ela e pro Thom. Nós iríamos deixar os dois sozinhos naquele avião.
O Thom pretendia pedir ela em casamento. Eu também achei que era muito cedo, mas ele disse que eles estavam juntos a muito tempo, só que não como um casal, mas ele tinha certeza que ela iria aceitar.
Talvez aceitasse, mas isso nunca vamos saber. O avião em que eles estavam caiu. Chloe saiu ilesa, quase, quebrou alguns ossos, mas nada sério, agora o Thom, ele entrou em coma. Na queda ele bateu a cabeça, sofreu um traumatismo craniano e entrou em coma.
Será que agora era o fim mesmo?

sábado, 12 de junho de 2010

O Primeiro Show

Acabei de reparar que eu sou inseguro, muito inseguro. Sempre que acontece alguma coisa boa, eu vou e penso no lado ruim. Agora era o nosso primeiro show da turnê e eu não pensava "Oh, vai ser ótimo, minha carreira está decolando e blá blá blá". Eu pensava " Ai meu Deus, e se o show estiver vazio? E se os ingressos não venderem? E se o equipamento quebrar? E se um saco de areia cair na minha cabeça bem no meu solo? E se o Roger desafinar? E se blá blá blá blá"

Quanto mais perto do destino eu chegava, mais o nervoso aumentava, e os caras? Estava super animados, felizes! Eu não conseguia. Óbvio que eu estava feliz, lá no fundo pelo menos, mas não conseguia ter aquela animação.
Mas o nervoso passou rápido, bem rápido. Ao chegar no estádio, ver o tamanho do palco que montaram e ver aquele camarim, ver o nosso equipamento sendo limpo pela produção, ver aquilo tudo profissional me deixou muito feliz.
Mas tocar em público ainda me deixava nervoso. E se eles não gostassem de mim ao vivo? Eu tenho que parar com isso, sério. Talvez seja por isso que eu estou escrevendo esse diário. Eu estava escrevendo no diário trancado no banheiro do camarim enquanto os caras treinavam uma música nossa quando a onça entrou:
-Parem com isso, vamos entrar em cinco minutos e a banda de abertura já está sendo vaiada. Rápido, se preparem, as músicas estão na ordem do disco e são as mesmas do disco. RÁPIDO!
Nick bateu na porta e mandou eu sair, porque nós iríamos tocar. Eu escondi o diário no bolso da minha jaqueta, sai do banheiro, peguei a guitarra e fui. As luzes piscavam, o povo gritava e meu coração acelerava.
Chegamos no palco, paramos e ficamos quietos. Os fãs também ficaram. Até que eu gritei:
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
E eles responderam a mesma coisa. A partir desse momento o show começou, começou e infelizmente terminou. Foi perfeito, acho que o melhor show que eu já fiz ou irei fazer.

domingo, 30 de maio de 2010

A Hippie Dolores

A felicidade era enorme, a gente mal podia acreditar. Nós nos despedimos das noites de fossa, das discussões contra a Madonna, das tardes ouvindo Move On, de tudo triste! Eu arrumei minha mala no mesmo segundo que eu desliguei o telefone.

Eu não sabia o que um roqueiro levava na turnê, então eu peguei todas as minhas calças jeans e todas as minhas camisas de bandas. Não eram muitas, mas qual o problema de feder? Eu era um roqueiro em turnê!
Sapatos? Levei dois, porque eu não via utilidade em mais, um para cada dia, eu ia revezando. Como um bom quase hippie, faltei no barbeiro, deixei meu cabelo e minha barba extremamente compridos para a minha idade.
Para se divertir na viajem eu levei três gibis dos Fabulous Furry Freak Brothers e milhares de discos. Combinei com o Nick que ele levaria o toca discos, porque viajar realmente é um tédio sem música ou gibis.
O nosso primeiro show não era longe, na verdade era possível ir de carro, no caso, de ônibus. O ônibus poderia ser preso por algum tira paranóico por ser tão hippie. Parecia o Magic Bus do The Who.
John apelidou o ônibus de Dolores porque disse que sempre quis ter uma cachorra com esse nome, mas já que sua mãe é alérgica a pelo de cachorro ele nunca teve uma. Então o ônibus servia.
A viajem foi ótima por causa da trilha sonora, e dos meu gibis. A gente também tocava músicas clássicas tipo Smoke on The Water. A conversa era máxima e o motorista, aparentemente chapado, gritava de cinco em cinco minutos:Me fazia sentir tão...hippie.

domingo, 23 de maio de 2010

Maré Baixa

As coisas estavam começando a ficar frias. Nenhuma música nova na rádio, os mesmos posters nas bancas, as fãs não estavam mais tão doidas e a Athena não ligava para a gente para marcar um show a mais ou menos um mês.

Eu realmente achei que aquele era o fim da banda, mas mal sabia eu que a maré abaixa antes da tsunami. Quando eu já tinha até esquecido que fazia parte de uma banda, passava os dias como um verdadeiro vegetal. Não me conformava que tudo tinha acabado tão rápido.
Eu escutava o meu disco tardes inteiras, chorava, e não saia daquela maldita cama. Sempre que o telefone tocava, eu desesperadamente ia atender, com uma mínima esperança de ser a gravadora, mas nunca era. Acabei desistindo.
Eu mal dormia, fiquei revoltado. Joguei minha guitarra nova pela janela, porque vi que aquilo tudo era hipocrisia. Os outros caras também não estavam bem, eles me ligavam direto pra gente se reunir, o que significava ir no bar mais próximo, encher a cara e cantar blues depressivo sobre o mundo capitalista, e como a Madonna estava acabando com o rock.
Sabe, ficar na expectativa é a pior coisa do mundo. Esperar é a pior coisa do mundo. É verdade quando eles dizem que quando você menos espera as coisas boas acontecem, mas isso é uma crueldade, porque até esquecer e parar de esperar por certas coisas, você pode até ter se matado de tanta ansiedade.
Agora quando o telefone tocava, eu não mexia um músculo, nem me importava. Achava que era só uma amiga da minha mãe combinando um jantar para exibir o boletim da filha. Ainda bem que eu comecei a pensar isso.
Quando minha mãe atendia o telefone e gritava:
- Russel, telefone para você, filho.
Eu também não me abalava, pensava que era os caras da banda pedindo pra eu ir em mais uma noite de fossa. Ainda bem que eu também pensava isso. Num dia normal, eu tava deitado na minha cama escutando Move On do Jet, minha música nos momentos depressivos, quando a minha mãe gritou:
- Russel, telefone para você, filho.
- Já falei pra me chamar de Rusty, mãe!
Peguei o telefone, e já adiantei:
- Fala Thom.
- Thom? Não, não. Aqui é o Lucas, da Athena Records, eu descobri vocês num show local, lembra?
- Claro, o que foi?
- Bom, estou ligando para todos da banda só para avisar que vocês podem começar a se preparar, arrumar malas, despedir da família e tudo mais, porque a turnê de vocês começa em uma semana.
- A turnê vai acontecer?
- Ainda tinha dúvidas? Por favor seja breve, não queremos adiar nenhum show.
- Ok.
Eu estava sonhando? Não, eu não estava. Literalmente, a maré abaixa antes de um tsunami.

domingo, 9 de maio de 2010

Negociando com a Athena

Como sempre, eu estava inseguro. É que a Athena Records era uma das maiores gravadoras atuais no mundo, estava lançando um monte de talentos e simplesmente mudar o nosso nome podia estragar muita coisa e eles podiam simplesmente descartar a gente.

E o que a Chloe ia pensar quando todo mundo, menos eu, começasse a chamar ela de onça? Ela podia se demitir, não? E ela sustentava a banda, era a melhor empresária que existia, não perdia uma discussão, se havia críticas negativas ela nos defendia e se uma fã qualquer dizia que estava grávida de um de nós, ela provava o contrário.
Eu não sei se ela ia reagir bem a esse negócio de onça. Eu não queria perder o nosso contrato, eu não queria perder a Chloe e muito menos voltar a tocar em barzinhos. Sabe, a questão nem era o dinheiro. Eu tava sim ganhando um bom dinheiro, troquei a minha modesta guitarra falsa por uma Gibson Les Paul original.
Era legal ser rico, mas se eu perdesse tudo aquilo, não me importava muito. Eu ligava mais era perder a banda. Se a gente fosse dispensado, provavelmente a banda iria se separar, porque sucessos assim, que acabam rápido, nunca mais voltam para o topo das paradas.
Eu não queria perder o perfeccionismo engraçado da Chloe, a tranquilidade até irritante do John, o otimismo simpático do Roger, a visão punk e revoltada do mundo do Thom e o tom reservado mas amigável do Nick.
Também preciso admitir, gostava de tocar para platéias grandes, gostava das fãs me seguindo, gostava de autografar as coisas esquisitas, tipo um gorro de tricô branco e principalmente, gostava de chegar em casa, abrir meu armário, encontrar um poster meu e do lado dele, o meu disco.
Lembra que eu falei que fé me faltava? Não tanto assim. Rezei o caminho inteiro, rezei orações que até achei que não existiam, e os caras só riam de mim. Finalmente chegamos ao prédio filial da Athena Records, subimos até o escritório dos grandes chefes no décimo quinto andar e fomos falar com eles. A onça tava junto, demos a ideia, e eles fizeram uma cara péssima. Depois falaram:
- Tenho ódio de mim por ter lançado vocês...
- O que? Gritou toda a banda
- Tenho ódio por ter lançado vocês como The Next Step! Se fosse So Weird direto teria muito mais sucesso! De qualquer jeito, a turnês So Weird Against Law começa mês que vem. Vamos assinar a papelada?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Muito Esquisito

Meu Deus, uma banda de sucesso? Eu tava mesmo numa banda de sucesso? Com direito a disco e tudo mais? Não sei se eu tenho baixa auto-estima, mas nunca me considerei um talento nato. Mas talvez eu seja né? Já que gravei um disco como guitarrista solo, devo ter algum talento.

Um dia, eu e os outros caras da banda nos reunimos na casa do Thomas e do Nicholas pra conversar sobre o emblema da banda, novas músicas essas coisas. Tava tudo indo bem até que o Thomas precisou abrir a boca, ainda bem:
- Olha, eu gostava de ser do The Next, era um bom nome, agora The Next Step? Gente isso é maior nome de boy band, né? Tipo, rock gente, isso aqui não é rock! Que tal nossa turnê, que provavelmente vai acontecer, inaugurar nosso novo nome?
Boy band? Nunca tinha pensado nisso sabe, tipo nunca me veio na cabeça que nosso nome era tão boy band.
- Olha eu nunca tinha pensado nisso, mas já que você falou, é verdade. Mas o que a gravadora vai achar disso e que nome você quer colocar? Sugeri
- Aaah, isso é fácil. A gente fala com a onça (era assim que Thomas chamava a Chloe) e vê o que ela acha, aí a gente fala com a gravadora e a nossa nova turnê tá legal, alguém tem alguma ideia?
- Cara, mudar o nome da banda de uma hora pra outra vai ser muito esquisito. Disse Roger, sem a intenção de nomear a banda novamente.
- Isso cara! Muito esquisito! A banda pode chamar So Weird! Eu gostei, o que vocês acham?
Todo mundo concordou, óbvio, So Weird era um nome muito bom. Mas Thomas apareceu com outra ideia, os nossos nomes. Ele queria um apelido irado pra cada um, ok, mas qual? Passamos um bom tempo discutindo isso, mas depois de duas horas, John chegou a uma conclusão:
- Ok gente, aqui estão os apelidos: eu vou continuar sendo o John; Thomas, agora você é o Thom; Nicholas, você é o Nick; Roger, você continua sendo Roger e você muleque, de Russel passa para Rusty. E graças a você Thom, a Chloe agora é...A Onçaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Ela não ia gostar nada disso, mas essa era a intenção do Thom. Era meio óbvio que ele gostava dela e é claro que irritar ela seria a melhor maneira de chamar a atenção "da onça". O novo nome da banda era legal e nossos novos nomes também, o único problema era o que a Athena Records ia pensar disso?
Bom, nós só iríamos saber isso no dia seguinte. Combinamos de ir todos juntos e anunciar nossa ideia, e só torcíamos para eles gostarem. Quem sabe isso funciona, ou não? Nunca fui uma pessoa sem fé, mas naquele momento, fé me faltava.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Law Against Me

Juntar todo o trabalho pro disco foi difícil, bem difícil. A gente tinha gravado 15 músicas e o disco podia ter elas, mas se a gente não gostasse de alguma podia tirar, mas o disco precisava de no mínimo 7 músicas.

Qual delas seria a faixa título? Tinha pelo menos umas cinco músicas que poderiam ser hits, e uma delas precisava ser a faixa título. E a capa? Eu não esperava pensar em uma super capa como, sei lá, Houses of the Holy.
E os encartes? As fotos? O nome? Gente como se faz um disco? Eu faço parte de uma banda e nunca pensei nisso. É irritante, muito irritante. Das quinze faixas, duas eram clássicos já, cinco eram hits com certeza, três eram boas, mas não tanto e o resto, preferimos excluir. Não somos o tipo que prefere quantidade do que qualidade, e eu não estou falando de roupas, e sim de músicas.
A capa? Nenhum de nós apareceu na capa. Era um revólver preto ocupando quase toda a tela em primeiro plano e um leve silhueta em segundo plano. Tipo uma arma apontando pra alguém. O nome ficava em vermelho logo em baixo e o nome da banda, em preto do lado.
O nome do disco era Law Against Me, também nome de uma das faixas. O engraçado é que a música nem era pra ser título, a faixa título deveria ser outra mas a gravadora não gostou, achava que era uma letra muito crítica e nos obrigou a mudar. Law Against Me foi escrita no banheiro do hotel por Nicholas.
Bom, o disco foi um sucesso. Meio demorado, mas quando estourou, estourou. Nossas músicas tocavam direto no rádio, fãs paravam a gente na rua para fotos e me perguntavam direto se eu me considerava um jovem talento.
Quando estávamos voltando para nossa cidade, no aeroporto, estavam mais de mil pessoas, aquilo era incrível. Tive medo de ser uma daquelas bandas de rock, que toca nas paradas uma vez e depois nunca mais toca. Isso não aconteceu, ainda bem.
Não demorou muito pra nossa primeira turnê. Vou contar sobre ela depois, agora o avião vai decolar e ler ou escrever durante viagens me da dor de cabeça.

domingo, 2 de maio de 2010

Punk? Nem um Pouco...

Era um sábado de manhã, mais especificamente, oito da manhã. O telefone do nosso quarto do hotel tocou, era Chloe. Pelo amor de Deus Chloe! Nós somos roqueiros de verdade agora, e roqueiros dormem até as duas da tarde no mínimo num sábado!

Bom, pelo menos era uma boa noticia.
- Hey, Nicholas? Anda acorda! Já são oito da manhã! Bom, isso não vem ao caso. Sabe quem acabou de me ligar? O diretor da gravadora, as músicas ficaram ótimas e ele quer vocês lá em uma hora pra decidir o nome do disco e fotografar a capa...Nicholas? ACORDA!
Nicholas esfregou os olhos, desligou o telefone, levantou e gritou. Gritou muito mesmo, aquele era o sonho dele e o irmão. Bom, de todos lá. Só de imaginar que eu tava na banda só por, sei lá, uns dois meses? Mais ou menos isso.
A gente tava indo pra gravadora, Roger e Nicholas foram na frente chamar um taxi, John foi no banheiro e eu e Thomas estávamos esperando ele. Thomas de repente virou pra mim e disse:
- Desculpa cara. Tipo, te julguei muito, te achava só um pirralho. É que tipo, sei lá.
- Tudo bem, não ligo. Não te culpo por isso,na boa, deixa.
Naquela hora, naquele dia percebi que na verdade o Thomas não era um punk insensível e
idiota, na verdade ele se importava com os outros, e tudo. Ele era legal, só tava meio abalado com
o fato da morte do Ben, depois descobri que o Ben era o irmão mais velho dele. Isso deve ter sido
duro pra ele.
Não que agora o Thomas seja meu melhor amigo, mas não tem mais aquele clima ruim de eu
te odeio nem nada. Nem amigos, nem inimigos. Companheiros de banda.

sábado, 1 de maio de 2010

Ligações Inevitáveis

-Oi mãe, tá tudo bem. Não mãe, eu não fumei nada. Ok mãe. Eu juro, não, isso não. Tá, tchau.

Eu não falei nada sobre a minha família né? Minha mãe é uma pediatra totalmente neurótica que mede minha pressão duas vezes por dia, todo dia, desde que eu tinha dez anos. Meu pai é um juiz que nunca para em casa e gosta de música clássica, assim como a minha mãe.
A minha irmã mais nova tem 13 anos e é a maior fã de rock. Eu ensinei ela a tocar várias músicas no violão e dei pra ela a maioria dos meu discos, incluindo o London Calling, esse doeu perder pra ela.
Mas mesmo assim, ela é a minha melhor amiga, na família e fora dela. Eu sinto a falta dela. Toda semana ela me liga e diz que tá escutando o meu disco. Eu também tenho um irmão mais velho, mas ele é muito afastado da gente. Ele fugiu pra Las Vegas pra se casar aos 16 anos e nunca mais voltou.
Algumas semanas atrás ele ligou lá pra casa. Ele tava com 25 anos, e abriu uma loja de roupa. Ainda é casado e a mulher dele é professora. Agora a cidade ele não disse, ele quer liberdade. Nada de família. Não gosto muito dele.
Um dia desses em Londres, o telefone do hotel tocou. Era a minha mãe. Ela me deu o maior sermão sobre maconha, groupies e rock. Ela disse que eu estava indo para o caminho do mal, e Harvard ainda seria melhor. Tarde demais mãe, o disco já estava quase pronto.
Algum tempo depois meu pai também ligou, ele disse que se eu desistisse da banda, ele vinha me buscar onde eu estivesse. Também disse que ele comprou um livro sobre direito. Realmente, acho que eles ainda não perceberam que eu não vou ser promotor.
Minha irmã também ligou, mas a conversa com ela foi mais legal. Ela estava surtando pelo fato de eu ser o guitarrista solo de uma banda de rock verdadeira que estava começando a fazer sucesso. Ela também pediu o autógrafo de todos da banda inclusive o meu, para o caso da gente ficar famosos, e assim ela teria algo de valor.
Sabe, eu sinto falta da minha família, mas aqui com a banda, quando eu estou com eles, até esqueço da minha família. Eu sei que isso parece frio, mas não é. Eu só me sinto a vontade, me sinto livre.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Mundo Anônimo do The Next Step

Eu estava lá mesmo? Estava. Nossa, aquilo era o mais puro sonho. Minha família era meio pobre, nós nunca fomos pra muito longe de casa, só pra algumas cidades bonitas perto da nossa cidade. Mas agora era diferente. Eu estava em Londres.

Londres, eu não conseguia acreditar! Londres era a cidade sonho de qualquer roqueiro, Rolling Stones, The Kinks, Queen, Sex Pistols e a minha banda favorita, a melhor banda do mundo segundo eu: The Who.
Todos começaram em Londres, todos esses clássicos tem origem de Londres. Velho, o The Who! The Who! Já pensou se eu fosse, sei lá, o novo Townshend? Tudo bem, eu podia estar exagerando um pouco, começar a carreira em Londres era uma coisa mágica.
Eu nunca quis seguir carreira artística, eu só tocava naqueles clubes pra juntar dinheiro pra ir pra faculdade. Meu pai queria que eu fosse promotor. Agora a faculdade era uma ideia esquecida. Música era a única coisa que me interessava.
Passamos um mês em Londres, andando por aí, se inspirando e depois indo pra gravadora tentar gravar alguma música. No fim do mês nosso primeiro disco tava pronto. Inicialmente o nome da banda era The Next, mas uma banda tava começando a estourar nas paradas com esse nome, isso estragou nossa viajem, um disco não podia ser vendido sem o nome da banda.
Um dia, a banda toda acordou cedo e foi na rua Abbey Road, talvez a mais famosa do mundo. Quando estávamos dando o passo para atravessar a rua, Roger gritou:
- Vamos dar o próximo passo!
Daí veio o nome da banda, The Next Step. Os The Next voltaram ao mundo anônimo duas semanas depois. Nós? Ainda não voltamos para o mundo anônimo. Talvez o mundo anônimo seja algo do qual você só consegue sair se você nasce fora dele, ou se mantém fora dele, por bem ou por mal.
No rock, sempre é por mal, pelo menos com o The Next Step.

domingo, 25 de abril de 2010

O Avião

Eu mal podia acreditar, tudo bem , a gente não era nenhuma banda super famosa rica que merecia um super jato com o nome da banda estampado nas asas e uma mini-geladeira ao lado do banco de primeira classe, mas aquilo?

Aquele avião, se é que se pode ter esse nome, estava caindo aos pedaços. Ele era terrível, talvez ele fosse mais velho que eu. Eu não ia viajar naquilo mas nem morto! Aliás, nem faz diferença o meu estado vital ao entrar no avião, já que parece que eu vou morrer durante a viagem.
Roger olhou para o avião e com o mesmo espanto que eu disse:
- Eu não vou entrar nessa...nessa...coisa!
Chloe fechou mais ainda sua cara, eu achava que isso era impossível, mas ela deixou a cara dela ainda mais séria e disse:
- Olha aqui, "Hendrix", ou você sobe nesse maldito avião ou você volta a cantar em barzinhos nos sábados a noite, que tal?
Ninguém não falou nada depois, só subiu no avião. Cara, a Chloe era linda, mas dava muito medo. Ela era realmente muito surtada. Subimos no avião com medo e sentamos nas cadeiras mais próximas da porta, no caso de precisar pular.
Quem sentou do meu lado foi John. Conversamos muito e tudo e vi que ele era um hippie bem legal até. Chloe estava sentada com Thomas e ficava criticando suas roupas, dizia que suas jaquetas eram de marginais e que o cabelo dele precisava de uma hidratação.
O avião já estava no ar fazia um bom tempo e ele nem chegou a tremer. Uma hora o piloto colocou um pouco de música pra animar mais a viagem. Era The Rain Song do Led Zeppelin. Uma das minhas músicas preferidas. This is the springtime of my loving - the second season I am to know
You are the sunlight in my growing - so little warmth I've felt before.
It isn't hard to feel me glowing - I watched the fire that grew so low ... enquanto cantávamos aquela música me senti em casa, me senti como se aquela banda fosse a minha família.

sábado, 24 de abril de 2010

A Empresária

Era um domingo um tanto cinzento. Dava até um certo nervoso de pensar em ficar sete horas em um maldito avião naquele tempo. Parecia que o mundo ia desabar em cima de nossas cabeças. Estávamos sentados naquelas poltronas pretas frias observando o vento levar os galhos das árvores de um lado para o outro.

De repente uma mulher alta, de terninho bege, óculos, cabelo castanho liso preso em um rabo de cavalo alto e um sapato de salto alto que fazia um som extremamente irritante a cada passo que ela dava. Ela também não largava aquele maldito celular. O que tanto ela fala? Me pergunto até hoje.
Era Chloe, nossa futura empresária. Ela era um tanto séria, chegava até a me assustar. Ela tinha um sotaque inglês muito engraçado e até hoje nunca vi um sorriso na cara dela. Na verdade acho que nossa maior conversa durou dois minutos pois o celular dela tocou e ela realmente PRECISAVA atender, realmente, Chloe é uma doente obsessiva, mas nunca perdeu uma discussão para alguém, então ela é uma ótima empresária.
A primeira coisa que ela disse ao ver a banda foi:
- Isso é um futuro sucesso? Vou ter muito trabalho. A propósito, o vôo de vocês para Londres sai em 20 minutos, melhor ir para o avião, vou em seguida.
Levantamos e fomos para o avião. Nicholas disse baixo pra mim:
- Essa mulher é surtada.
- Eu sei.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Briga e o Sucesso

"Ok, ele não gostou de mim, eu já sei. Eu vou ser legal, vou ser um bom guitarrista, vai ficar tudo certo."

Era o nosso primeiro show. Não vou dizer um show, era só uma pequena apresentação num show de talentos da cidade, mas era a primeira apresentação comigo na banda. Thomas passou a viagem inteira falando que com Ben nós poderíamos ganhar o show, mas comigo não.
Sabe, não ligo que ele me odeia, mas também não precisa ficar falando. Fiquei muito nervoso, e se fosse verdade? E se eles nunca ganhassem comigo na guitarra? Afastei os pensamentos temporariamente.
Faltavam alguns minutos pro show começar e todas as bandas estavam treinando suas músicas atrás do palco. Enquanto eu ensaiava meu solo, Thomas virou para mim e disse:
- Cara, para! Você não é bom! A gente nunca vai arranjar um guitarrista como o Ben, então para de tentar ser um Jimmy Page ou coisa assim porque você tá longe disso.
Depois disso, nos chamaram para entrar no palco. Sabe Thomas, obrigado. Graças a você, naquele dia a raiva me fez mostrar o quanto eu sou um bom guitarrista e como você é um idiota. Meu solo foi arrasador. Sua cara foi hilária. E Lucas, o caça talentos da Athena Records pensou o mesmo.
Dez minutos depois, ele veio falar com a gente. Disse que meu solo foi ótimo, disse que iria mandar a gente para a sede da gravadora e ainda disse que se o presidente da gravadora gostasse da nossa música, talvez um disco nosso seria lançado no fim no ano. Ganhamos o show e fomos enviados para Londres, onde estava a sede da gravadora.
Nosso sucesso começou aí, estouramos aí. Rumo a um disco no mercado, rumo a clássicos nos rádios, rumo aos shows lotados, rumo ao sonho de qualquer roqueiro numa banda até então considerada péssima. Sim, eu tenho muita sorte.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Conhecendo a Banda

Era uma sexta-feira, eu tinha acabado de sair da escola (patético, eu sei) e o John veio me buscar para me apresentar para TODA a banda. Eu já conhecia eles de vista, por causa do teste. Mas agora eu não iria só tocar para eles e esperar saber se eu tocava bem, ele iriam me conhecer pessoalmente, minha vida, minha personalidade, minha opinião, meus gostos, TUDO!

A ideia de eu ser um muleque imaturo e que eles iriam se acabar de tanto rir era a mais aceitável pra mim. Mas quando vi eles e consegui analisar todos, perceber seus detalhes, pois no dia do teste estava preocupado só com tocar bem. John eu já conhecia, ele era o guitarrista base. Roger, o vocalista, era um fã devoto do Jimi Hendrix. Usava um cabelo parecido e suas roupas eram uma cópia engraçada do figurino do Hendrix, só que feitas pela mãe dele.
Thomas, o baixista era meio punk. Ele usava um cabelo estilo Joey Ramone e só usava jaquetas de couro com calças jeans rasgadas. Ele tentava passar uma imagem de durão e tudo, mas na verdade, ele era até meio legal, sei lá.
Nicholas era irmão do Thomas e tocava bateria. Ele era na boa e tudo, na verdade era o mais normal do grupo. Ele curtia muito Led Zeppelin e The Who, tinha um jeito meio desleixado e tudo. Foi com quem eu mais me identifiquei. Também era o mais novo. Talvez isso tenha ajudado.
Thomas não gostou muito de mim porque ele achava que o outro guitarrista, Ben, era muito melhor e eu nunca iria ser um bom substituto. Efim, eu era só o pirralho que ia ajudar a banda até ela achar um guitarrista melhor.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Teste

"Eles me odiaram, olha só a cara deles, eu sou só um muleque de 15 anos, sou um pirralho que pensa que toca guitarra."

Era isso que se passava na minha mente no momento do teste. Foram os piores quinze minutos da minha vida. Toquei três músicas escolhidas por eles, enquanto me encaravam com seus olhos cobertos de cabelo despenteado. O ódio me tomava, o ódio e a curiosidade.
No meio de You Better You Bet, simplesmente surtei. Parei de tocar, larguei minha guitarra e gritei:
- Por que essas caras? Não estou tocando bem? Querem saber? Eu não ligo, nem sei por que eu apareci aqui e fiz esse teste! Essa banda é uma verdadeira bosta, o último guitarrista contratado por vocês se matou! O que vocês entendem disso? Eu vou embora, e espero que o próximo membro morra naturalmente!
- Esse muleque é muito bom cara!
Foi isso que o vocalista, Roger, disse pra mim, se levantando e aplaudindo meu surto. Até hoje me pergunto se eles me colocaram na banda por eu ser surtado ou bom guitarrista, ou um bom guitarrista surtado. Afinal, o mundo do rock não é para normais sem talento.
Muito menos para pirralhos normais sem talento. O que eles viram em mim? Eu não sou nenhum Angus Young ou um Eddie Van Halen, sou só...só...só um anormal talentoso.

terça-feira, 20 de abril de 2010

The Next Step

- Ei, você! Que música você estava tocando? Não pode ser, era Pinhead dos Ramones? Nossa, você é muito bom! Tá em alguma banda? Faz um teste pra nossa, a gente perdeu nosso guitarrista!

Assim foi como tudo começou. Eu tinha só 15 anos, tocando Ramones no clube da cidade nas sextas de noite, como sempre. Até que o John apareceu aquele dia. Quando vi ele, pensei que ele era só mais um hippie da cidade, com calças largas, cabelo longo e bagunçado e uma camisa aparentemente suja do Pink Floyd. Acredite, ele não era o único nem um dos poucos.
Achei que ele só iria conversar comigo sobre bandas e composições, essas coisas. Nunca imaginei que ele seria o meu próximo passo para o sucesso e para a The Next Step. Minha carreira toda se resumiu em uma frase vinda de um hippie que tinha uma banda de luto por causa de um ex-guitarrista drogado. Sim, quando ele disse que havia perdido o guitarrista, ele realmente tinha perdido o guitarrista.
Meu pesadelo começou aí. Eu não queria estar num ônibus velho agora, muito menos escrevendo isso, mas parece uma boa maneira de se aliviar.