sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Mundo Anônimo do The Next Step

Eu estava lá mesmo? Estava. Nossa, aquilo era o mais puro sonho. Minha família era meio pobre, nós nunca fomos pra muito longe de casa, só pra algumas cidades bonitas perto da nossa cidade. Mas agora era diferente. Eu estava em Londres.

Londres, eu não conseguia acreditar! Londres era a cidade sonho de qualquer roqueiro, Rolling Stones, The Kinks, Queen, Sex Pistols e a minha banda favorita, a melhor banda do mundo segundo eu: The Who.
Todos começaram em Londres, todos esses clássicos tem origem de Londres. Velho, o The Who! The Who! Já pensou se eu fosse, sei lá, o novo Townshend? Tudo bem, eu podia estar exagerando um pouco, começar a carreira em Londres era uma coisa mágica.
Eu nunca quis seguir carreira artística, eu só tocava naqueles clubes pra juntar dinheiro pra ir pra faculdade. Meu pai queria que eu fosse promotor. Agora a faculdade era uma ideia esquecida. Música era a única coisa que me interessava.
Passamos um mês em Londres, andando por aí, se inspirando e depois indo pra gravadora tentar gravar alguma música. No fim do mês nosso primeiro disco tava pronto. Inicialmente o nome da banda era The Next, mas uma banda tava começando a estourar nas paradas com esse nome, isso estragou nossa viajem, um disco não podia ser vendido sem o nome da banda.
Um dia, a banda toda acordou cedo e foi na rua Abbey Road, talvez a mais famosa do mundo. Quando estávamos dando o passo para atravessar a rua, Roger gritou:
- Vamos dar o próximo passo!
Daí veio o nome da banda, The Next Step. Os The Next voltaram ao mundo anônimo duas semanas depois. Nós? Ainda não voltamos para o mundo anônimo. Talvez o mundo anônimo seja algo do qual você só consegue sair se você nasce fora dele, ou se mantém fora dele, por bem ou por mal.
No rock, sempre é por mal, pelo menos com o The Next Step.

domingo, 25 de abril de 2010

O Avião

Eu mal podia acreditar, tudo bem , a gente não era nenhuma banda super famosa rica que merecia um super jato com o nome da banda estampado nas asas e uma mini-geladeira ao lado do banco de primeira classe, mas aquilo?

Aquele avião, se é que se pode ter esse nome, estava caindo aos pedaços. Ele era terrível, talvez ele fosse mais velho que eu. Eu não ia viajar naquilo mas nem morto! Aliás, nem faz diferença o meu estado vital ao entrar no avião, já que parece que eu vou morrer durante a viagem.
Roger olhou para o avião e com o mesmo espanto que eu disse:
- Eu não vou entrar nessa...nessa...coisa!
Chloe fechou mais ainda sua cara, eu achava que isso era impossível, mas ela deixou a cara dela ainda mais séria e disse:
- Olha aqui, "Hendrix", ou você sobe nesse maldito avião ou você volta a cantar em barzinhos nos sábados a noite, que tal?
Ninguém não falou nada depois, só subiu no avião. Cara, a Chloe era linda, mas dava muito medo. Ela era realmente muito surtada. Subimos no avião com medo e sentamos nas cadeiras mais próximas da porta, no caso de precisar pular.
Quem sentou do meu lado foi John. Conversamos muito e tudo e vi que ele era um hippie bem legal até. Chloe estava sentada com Thomas e ficava criticando suas roupas, dizia que suas jaquetas eram de marginais e que o cabelo dele precisava de uma hidratação.
O avião já estava no ar fazia um bom tempo e ele nem chegou a tremer. Uma hora o piloto colocou um pouco de música pra animar mais a viagem. Era The Rain Song do Led Zeppelin. Uma das minhas músicas preferidas. This is the springtime of my loving - the second season I am to know
You are the sunlight in my growing - so little warmth I've felt before.
It isn't hard to feel me glowing - I watched the fire that grew so low ... enquanto cantávamos aquela música me senti em casa, me senti como se aquela banda fosse a minha família.

sábado, 24 de abril de 2010

A Empresária

Era um domingo um tanto cinzento. Dava até um certo nervoso de pensar em ficar sete horas em um maldito avião naquele tempo. Parecia que o mundo ia desabar em cima de nossas cabeças. Estávamos sentados naquelas poltronas pretas frias observando o vento levar os galhos das árvores de um lado para o outro.

De repente uma mulher alta, de terninho bege, óculos, cabelo castanho liso preso em um rabo de cavalo alto e um sapato de salto alto que fazia um som extremamente irritante a cada passo que ela dava. Ela também não largava aquele maldito celular. O que tanto ela fala? Me pergunto até hoje.
Era Chloe, nossa futura empresária. Ela era um tanto séria, chegava até a me assustar. Ela tinha um sotaque inglês muito engraçado e até hoje nunca vi um sorriso na cara dela. Na verdade acho que nossa maior conversa durou dois minutos pois o celular dela tocou e ela realmente PRECISAVA atender, realmente, Chloe é uma doente obsessiva, mas nunca perdeu uma discussão para alguém, então ela é uma ótima empresária.
A primeira coisa que ela disse ao ver a banda foi:
- Isso é um futuro sucesso? Vou ter muito trabalho. A propósito, o vôo de vocês para Londres sai em 20 minutos, melhor ir para o avião, vou em seguida.
Levantamos e fomos para o avião. Nicholas disse baixo pra mim:
- Essa mulher é surtada.
- Eu sei.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Briga e o Sucesso

"Ok, ele não gostou de mim, eu já sei. Eu vou ser legal, vou ser um bom guitarrista, vai ficar tudo certo."

Era o nosso primeiro show. Não vou dizer um show, era só uma pequena apresentação num show de talentos da cidade, mas era a primeira apresentação comigo na banda. Thomas passou a viagem inteira falando que com Ben nós poderíamos ganhar o show, mas comigo não.
Sabe, não ligo que ele me odeia, mas também não precisa ficar falando. Fiquei muito nervoso, e se fosse verdade? E se eles nunca ganhassem comigo na guitarra? Afastei os pensamentos temporariamente.
Faltavam alguns minutos pro show começar e todas as bandas estavam treinando suas músicas atrás do palco. Enquanto eu ensaiava meu solo, Thomas virou para mim e disse:
- Cara, para! Você não é bom! A gente nunca vai arranjar um guitarrista como o Ben, então para de tentar ser um Jimmy Page ou coisa assim porque você tá longe disso.
Depois disso, nos chamaram para entrar no palco. Sabe Thomas, obrigado. Graças a você, naquele dia a raiva me fez mostrar o quanto eu sou um bom guitarrista e como você é um idiota. Meu solo foi arrasador. Sua cara foi hilária. E Lucas, o caça talentos da Athena Records pensou o mesmo.
Dez minutos depois, ele veio falar com a gente. Disse que meu solo foi ótimo, disse que iria mandar a gente para a sede da gravadora e ainda disse que se o presidente da gravadora gostasse da nossa música, talvez um disco nosso seria lançado no fim no ano. Ganhamos o show e fomos enviados para Londres, onde estava a sede da gravadora.
Nosso sucesso começou aí, estouramos aí. Rumo a um disco no mercado, rumo a clássicos nos rádios, rumo aos shows lotados, rumo ao sonho de qualquer roqueiro numa banda até então considerada péssima. Sim, eu tenho muita sorte.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Conhecendo a Banda

Era uma sexta-feira, eu tinha acabado de sair da escola (patético, eu sei) e o John veio me buscar para me apresentar para TODA a banda. Eu já conhecia eles de vista, por causa do teste. Mas agora eu não iria só tocar para eles e esperar saber se eu tocava bem, ele iriam me conhecer pessoalmente, minha vida, minha personalidade, minha opinião, meus gostos, TUDO!

A ideia de eu ser um muleque imaturo e que eles iriam se acabar de tanto rir era a mais aceitável pra mim. Mas quando vi eles e consegui analisar todos, perceber seus detalhes, pois no dia do teste estava preocupado só com tocar bem. John eu já conhecia, ele era o guitarrista base. Roger, o vocalista, era um fã devoto do Jimi Hendrix. Usava um cabelo parecido e suas roupas eram uma cópia engraçada do figurino do Hendrix, só que feitas pela mãe dele.
Thomas, o baixista era meio punk. Ele usava um cabelo estilo Joey Ramone e só usava jaquetas de couro com calças jeans rasgadas. Ele tentava passar uma imagem de durão e tudo, mas na verdade, ele era até meio legal, sei lá.
Nicholas era irmão do Thomas e tocava bateria. Ele era na boa e tudo, na verdade era o mais normal do grupo. Ele curtia muito Led Zeppelin e The Who, tinha um jeito meio desleixado e tudo. Foi com quem eu mais me identifiquei. Também era o mais novo. Talvez isso tenha ajudado.
Thomas não gostou muito de mim porque ele achava que o outro guitarrista, Ben, era muito melhor e eu nunca iria ser um bom substituto. Efim, eu era só o pirralho que ia ajudar a banda até ela achar um guitarrista melhor.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Teste

"Eles me odiaram, olha só a cara deles, eu sou só um muleque de 15 anos, sou um pirralho que pensa que toca guitarra."

Era isso que se passava na minha mente no momento do teste. Foram os piores quinze minutos da minha vida. Toquei três músicas escolhidas por eles, enquanto me encaravam com seus olhos cobertos de cabelo despenteado. O ódio me tomava, o ódio e a curiosidade.
No meio de You Better You Bet, simplesmente surtei. Parei de tocar, larguei minha guitarra e gritei:
- Por que essas caras? Não estou tocando bem? Querem saber? Eu não ligo, nem sei por que eu apareci aqui e fiz esse teste! Essa banda é uma verdadeira bosta, o último guitarrista contratado por vocês se matou! O que vocês entendem disso? Eu vou embora, e espero que o próximo membro morra naturalmente!
- Esse muleque é muito bom cara!
Foi isso que o vocalista, Roger, disse pra mim, se levantando e aplaudindo meu surto. Até hoje me pergunto se eles me colocaram na banda por eu ser surtado ou bom guitarrista, ou um bom guitarrista surtado. Afinal, o mundo do rock não é para normais sem talento.
Muito menos para pirralhos normais sem talento. O que eles viram em mim? Eu não sou nenhum Angus Young ou um Eddie Van Halen, sou só...só...só um anormal talentoso.

terça-feira, 20 de abril de 2010

The Next Step

- Ei, você! Que música você estava tocando? Não pode ser, era Pinhead dos Ramones? Nossa, você é muito bom! Tá em alguma banda? Faz um teste pra nossa, a gente perdeu nosso guitarrista!

Assim foi como tudo começou. Eu tinha só 15 anos, tocando Ramones no clube da cidade nas sextas de noite, como sempre. Até que o John apareceu aquele dia. Quando vi ele, pensei que ele era só mais um hippie da cidade, com calças largas, cabelo longo e bagunçado e uma camisa aparentemente suja do Pink Floyd. Acredite, ele não era o único nem um dos poucos.
Achei que ele só iria conversar comigo sobre bandas e composições, essas coisas. Nunca imaginei que ele seria o meu próximo passo para o sucesso e para a The Next Step. Minha carreira toda se resumiu em uma frase vinda de um hippie que tinha uma banda de luto por causa de um ex-guitarrista drogado. Sim, quando ele disse que havia perdido o guitarrista, ele realmente tinha perdido o guitarrista.
Meu pesadelo começou aí. Eu não queria estar num ônibus velho agora, muito menos escrevendo isso, mas parece uma boa maneira de se aliviar.